A Poesia na luta contra Belo Monte

Joana Moncau Fotos: Verena Glass e Renata Pinheiro/ MXVPS

Leitura de João de Castro (2’25»)[podcast]http://desinformemonos.org.mx/Audios/cordel.mp3[/podcast]

Belém, Brasil. A Literatura de Cordel é uma importante forma da cultura popular brasileira. Essa modalidade literária que chegou ao Brasil da mão dos portugueses, assim foi apelidada por ser vendida por seus autores nas feiras em folhetos expostos em uma corda. Com especial força no nordeste brasileiro, expressão escrita do repente, a linguagem popular e a musicalidade do cordel são usadas para dialogar com os fatos políticos atuais. Uma espécie de jornal popular que, ainda hoje, tem como proposta debater, difundir, questionar e denunciar. A isso se propõe também o cordel de João de Castro, «Belo Monte – O Belo do Destruir», publicado em janeiro de 2011 com o apoio do Movimento Xingu Vivo para Sempre e da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Nordestino de Palmares, Pernambuco, vive na região Amazônica do estado do Pará, desde 1972 – período em que houve forte migração para a região com o incentivo do governo militar, que pretendia colonizar e «civilizar» a floresta. Desde então, o poeta de 62 anos já viu a Amazônia dar espaço para o tal do «desenvolvimento» e «progresso», que, como ressalta, sempre foram sinônimos de derrubadas, devastação e extração ilegal dos recursos vegetais e minerais amazônicos.

Ativista que recorre à literatura e à educação como principais ferramentas, sua mais recente obra dialoga com indignação com o projeto do Complexo Hidroelétrico de Belo Monte. Continuidade dessa forma de desenvolvimento predatório, o projeto já foi discutido, aprovado de forma arbitrária e começa a ser implementado na região de Altamira, onde o poeta reside atualmente. Como ele mesmo alerta em nota introdutória à obra: «A importância não será tão somente ler, mas desencadear uma reflexão entre o presente e o passado, culminando com o prevenir do futuro». Atualmente, João busca apoio para uma segunda reimpressão do livro para distribuí-lo gratuitamente e estimular o debate entre a população da região que será atingida por essa, que é a principal obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.

Desse cordel – que narra toda a história do projeto de Belo Monte, desde a época da ditadura, quando ainda era denominado de Kararaô, até o leilão de abril de 2010, passo importante para a construção da hidrelétrica -, apresentamos aqui um pequeno fragmento acompanhado de uma leitura cantada por João de Castro exclusivo para Desinformémonos.

Belo Monte – o Belo do Destruir
João de Castro

25 de junho de 2010*.

Presidente autoritário
Altamira visitou:
«Belo Monte! Eu construo!»…
Ironizou, insuflou…
Sorrindo de todo mundo
Em bom tom «Ele» zombou…

E zombou principalmente
Para os que diziam não.
– «É meia dúzia de jovens
que não merecem atenção!»…
Mas esquece o Presidente
que é um Movimento, uma Ação.

Ministros incompetentes**,
diz o presidente amém.
O Ibama de nada sabe
Nem o que é que o Xingu tem
Proclamaram o «holocausto»
A Lei vai… mas a Lei vem…

Nada vale a vida humana
Mas sim os «Trinta Bilhões»!
Muitos jogos de interesses
Brasileiros vendilhões…
Monta-se um novo «Eldorado»
Pra Forasteiros, Vilões…

Mentem para convencer
Sobre o Impacto Ambiental.
Está claro e tudo errado,
A Hidrelétrica faz mal.
Se aparece um que diz não,
logo é taxado de mau…

«Desenvolvimento» é isso?!…
Construir pra destruir?
Acabar com as Etnias
Só para a um «Senhor» servir
Mesmo que o povão não tenha
Nem mesmo para onde ir.

Meia dúzia interessados
Na partilha do bilhão,
Ganham aqui e vão embroa
Provocando um turbilhão
De problemas dia-a-dia,
Pessoal sem coração…

Democracia no Brasil
Fora de cogitação
Não se discute projeto
Dita-se a forma de ação
«Belo Monte» é um exemplo
Por valer 30 bilhão!

É assim «Democracia»
Na forma do Coronel:
Que se faça e se execute,
Não adianta papel
Escrevam quanto quiserem A coisa é mesmo um fel.

Democracia, Presidente,
Não impor, empurrar
De goela abaixo um Projeto
Que mil vidas vai custar.
E por se tratar de vidas,
Precisa tudo pensar.

Empurram de goela abaixo
Infelizmente é assim
O povo dizendo não!…
Governo dizendo sim!…
Meu Deus! Tem vidas humanas
E a coisa fica assim?!

*O presidente Lula visita Altamira para concretizar «Construa-se Belo Monte»
** Ministros do Meio Ambiente e de Minas y Energia

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